Para um leigo, os instrumentos de cordas friccionadas podem parecer um grupo homogêneo, diferenciando-se apenas pelo tamanho. No entanto, o violino, a viola e o violoncelo (também conhecido como cello) são pilares da música ocidental, cada um com sua voz, função e características técnicas únicas que definem a textura e o peso sonoro de uma orquestra.
Anatomia e Tamanho: A Distinção Visual e Acústica
A diferença de tamanho é a mais óbvia e impacta diretamente a função sonora do instrumento. O princípio é simples: quanto maior o corpo de ressonância, mais grave e profundo será o som produzido.
O Violino é o menor da família, com um corpo medindo aproximadamente 35 cm. Ele é apoiado no ombro e queixo do músico e cumpre a função de voz Soprano (aguda) na orquestra.
Já a Viola é ligeiramente maior, com cerca de 40 cm de corpo. Ela também é tocada apoiada no ombro e atua como a voz Alto/Contralto (média).
Por fim, o Violoncelo é significativamente maior, medindo cerca de 75 cm. Devido ao seu tamanho, é tocado sentado, apoiado no chão por um espigão, e assume a voz Tenor/Baixo (grave).
O Papel do Corpo e o Timbre
A variação no tamanho não é apenas estética; ela define o timbre (a cor do som) de cada um. O violino, com seu corpo menor, ressoa em frequências mais altas, resultando em um som brilhante, penetrante e ágil. É ideal para melodias virtuosas e rápidas. A viola, por ser maior, possui uma câmara de ar que ressoa notas mais graves. Seu timbre é descrito como aveludado, melancólico ou introspectivo, ocupando a região média da harmonia. O violoncelo, com seu grande volume de caixa acústica, produz um som potente e rico em harmônicos graves. Sua sonoridade é frequentemente comparada à voz humana (tenor) e serve como alicerce fundamental da seção de cordas.
Origem do Violino, Viola e Violoncelo
A família moderna dos instrumentos de cordas friccionadas – violino, viola e violoncelo – como os conhecemos hoje, foi criada e padronizada no início do século XVI (anos 1500) na Itália.
Eles surgiram como uma evolução das antigas “violas da braccio” (violas de braço), que eram tocadas no ombro.
Violino: O primeiro violino com o formato moderno é atribuído a fabricantes como Gasparo da Salò e Andrea Amati na Itália, por volta de 1540 a 1560. O instrumento se popularizou rapidamente no final do século XVI.
Viola: A viola também surgiu na mesma época, por volta do século XVI, como parte do conjunto inicial da família do violino. Ela se estabeleceu com um tamanho maior que o violino para alcançar sua tessitura intermediária.
Violoncelo: O violoncelo (ou cello), evoluiu a partir de instrumentos graves como a “violone”. Sua forma final e padronizada foi estabelecida na Itália no século XVI, mas ele só ganhou destaque como instrumento solista e essencial nas orquestras no século XVIII, graças a compositores como Bach.
O período de ouro para a construção e aperfeiçoamento desses instrumentos foi entre 1650 e 1750, com o trabalho de grandes luthiers da Escola de Cremona, como Antonio Stradivari e Guarnieri del Gesú.
Afinação e Extensão Vocal: O Alcance dos Instrumentos
A diferença na afinação é o que estabelece a tessitura (extensão vocal) de cada instrumento, determinando seu papel harmônico.
1. Violino: O Cantor Solista
O violino é afinado em quintas justas, com suas cordas sendo: Sol (G), Ré (D), Lá (A), Mi (E). O Mi (E) é sua corda mais aguda, responsável pelo seu brilho característico e por permitir a extensão mais alta da família. Na orquestra, o violino geralmente carrega a melodia principal (Soprano) e executa as passagens de maior virtuosidade.
2. Viola: O Elo de Ligação (O Instrumento da Voz Interna)
A viola também é afinada em quintas justas, mas uma quinta abaixo do violino. Suas cordas são: Dó (C), Sol (G), Ré (D), Lá (A). Sua corda mais grave, o Dó (C), está na região média do piano (Dó central). Por isso, ela ocupa a voz intermediária (Alto/Contralto). Sua principal função é preencher a harmonia, ligar a seção de baixo (violoncelo) com o soprano (violino) e dar profundidade tonal. Curiosamente, a partitura da viola é escrita em Clave de Dó na Terceira Linha (Clave de Alto), um sistema de leitura exclusivo que reflete seu posicionamento central na tessitura.
3. Violoncelo: A Base Melódica e Rítmica
O violoncelo é afinado em quintas justas, uma oitava abaixo da viola. Suas cordas são: Dó (C), Sol (G), Ré (D), Lá (A). Sua corda mais grave é o Dó (C) da viola, mas soa uma oitava abaixo. Ele atua como a voz de baixo e tenor, fornecendo a linha de baixo harmônica e rítmica. Apesar disso, o violoncelo é capaz de um lirismo profundo nas oitavas mais agudas, sendo um instrumento solista muito expressivo.
Técnica de Execução e Arco
A forma como o instrumentista interage com o instrumento e o arco também difere significativamente, influenciada diretamente pelo tamanho.
Tanto o violino quanto a viola são tocados apoiados no ombro e no queixo, utilizando acessórios como a espaldeira e a queixeira para conforto. A técnica da mão esquerda (que pressiona as cordas) exige agilidade e rapidez, especialmente no violino, devido à curta distância entre as notas.
O violoncelo, por sua vez, é apoiado no chão por um espigão e é seguro entre as pernas do músico. O grande comprimento das cordas exige mais força e alcance da mão esquerda. O arco do violoncelo é significativamente mais curto e pesado que o arco do violino e da viola. Esse peso é necessário para conseguir extrair o volume e a profundidade de som das cordas grossas e longas.
O Papel no Contexto Musical
A Diferença entre Violino Viola Violoncelo se torna mais evidente ao observar suas responsabilidades na orquestra sinfônica e na música de câmara.
Orquestra Sinfônica: As Seções de Cordas
Em uma orquestra, a seção de cordas é dividida de forma hierárquica:
- Primeiros Violinos: Têm a função de conduzir a melodia principal, as passagens virtuosas e a linha melódica mais aguda (Soprano).
- Segundos Violinos: Reforçam e complementam a melodia dos primeiros violinos, mas frequentemente tocam linhas harmônicas diferentes, adicionando contraponto.
- Viola: É considerada a alma da harmonia. Sua voz média preenche o espaço entre o baixo e o soprano, dando corpo e riqueza tonal à orquestra. Ela é o “cimento” que une as diferentes vozes.
- Violoncelo: O alicerce rítmico e melódico da seção grave. Toca a linha de baixo junto com os contrabaixos, mas é frequentemente destacado para linhas melódicas mais cantabile (cantáveis) e expressivas do que o contrabaixo.
Quarteto de Cordas (O Cenário Clássico)
Na formação de quarteto de cordas, a hierarquia de voz é estabelecida de forma nítida, demonstrando a interdependência dos instrumentos:
- O Violino I geralmente assume a linha melódica principal.
- O Violino II faz a segunda voz ou o contraponto superior.
- A Viola é essencial para a harmonia interna e o apoio melódico.
- O Violoncelo atua como a linha de baixo e o fundamento harmônico.
Essa formação demonstra perfeitamente como cada instrumento é insubstituível em sua função harmônica e rítmica.
Conclusão: Voz, Alma e Fundação
Embora sejam feitos da mesma madeira e possuam quatro cordas, o violino, a viola e o violoncelo representam três vozes distintas na família das cordas. O violino é a voz brilhante e solista; a viola é a alma introspectiva e harmônica; e o violoncelo é a fundação e a força emocional.
Compreender a Diferença entre Violino Viola Violoncelo não é apenas uma questão de nomenclatura, mas sim de entender a riqueza e a complexidade que definem a estrutura sonora da música clássica e contemporânea.
